Revisitando a História

"Aqueles que não conseguem lembrar o passado, estão condenados a repeti-lo" George Santayana

quarta-feira, agosto 30, 2006

Termophylae


Estamos no Verão de 480 a. C. e o pequeno exército grego de apenas 300 espartanos e 7000 aliados, comandado pelo rei Leónidas I de Esparta, prepara-se para se defender contra a horda persa de 250 mil homens, comandado por Xerxes I rei da Pérsia, no desfiladeiro de Termophylae ("Portas Quentes"). A batalha que aqui se iria travar tornar-se-ia uma das batalhas mais famosas da Antiguidade em que a ambição desmedida de um homem seria confrontada pela inigualável coragem de um outro.

Seguindo os passos do seu pai, Dário I, Xerxes resolve dar continuação à guerra contra os gregos, guerra essa conhecida como Guerras Médicas. Sedento de vingança pela derrota de seu pai na Batalha de Maratona, Xerxes reúne o seu gigantesco exército de 250 mil homens (segundo Heródoto de Halicarnasso, seriam milhões) e decide invadir a Grécia e torná-la parte do seu império.
Tendo conhecimento deste plano e em especial do gigantesco número do exército persa, as cidades estado gregas reúnem-se para discutir uma aliança, assim, Atenas e Esparta, cidades rivais que lutam pelo controlo da Grécia, tomam a decisão de unir forças e enfrentar juntas a temível força invasora.
Coube a Leónidas I, rei de Esparta, a missão de liderar um pequeno contingente de homens (300 espartanos e 7000 aliados) e tentar deter por tempo suficiente o exército inimigo enquanto as restantes cidades estado reuniam um exército suficientemente grande para defrontar os persas.
O melhor local para esta missão seria o estreito de Termópilas, um local encravado entre as cadeias montanhosas do Eta e do Calídromo e um braço de mar (o golfo de Mália). O seu nome deve-se às duas fontes sulfurosas que aí existiam e, segundo Heródoto, os seus troços eram tão estreitos que só um carro podia passar de cada vez. Este seria o campo de batalha perfeito, pois a enorme vantagem numérica persa ficaria sem efeito e apenas um número reduzido dos seus homens poderia avançar de cada vez para enfrentar os gregos.

Foi aqui que Leónidas montou o seu acampamento e foi aqui que durante 4 dias esperou pacientemente pelos persas que tinham acampado na planície em frente. Xerxes ficou deveras admirado quando os seus batedores lhe informaram que um pequeno contingente de gregos estava acampado nas montanhas e se mostravam descontraídos e relaxados. Finalmente no quinto dia, o rei persa farto de esperar por um confronto decidiu avançar e atacar a pequena força grega. Ordenou aos seus homens, soldados de infantaria ligeira, que investissem contra a posição inimiga, eles assim o fizeram, mas sem a capacidade de flanquear ou cercar o inimigo rapidamente se viram a braços com uma resistência encarniçada composta por soldados de infantaria pesada e altamente especializados na arte da guerra. O resultado foi uma derrota humilhante para os persas naquele primeiro dia. De acordo com Heródoto, Xerxes furioso terá dito "Minhas flechas serão tão numerosas que obscurecerão a luz do Sol", ao que um grego lhe terá respondido "Tanto melhor, combateremos à sombra!".
No segundo dia, Xerxes voltou a ordenar aos seus homens que atacassem a barreira grega, mas uma vez mais voltaram a sofrer pesadas baixas, o rei desapontado mandou avançar a sua guarda de elite, os Immortais, mas nem estes conseguiram fazer frente à táctica grega da Falange e acabaram por ser igualmente derrotados. Porém, um acontecimento que viria a mudar o destino destes corajosos resistentes estava prestes a acontecer, pela calada da noite um grego chamado Ephialtes desertou para o lado persa e em troca de uma boa maquia de dinheiro revelou uma passagem secreta através das montanhas que permitiria cercar os resistentes.
Tendo conhecimento da traição, Leónidas ordenou aos seus aliados que se retirassem, pois no dia seguinte seriam mortos. Dos 7300 apenas 600 ficaram, 300 dos quais eram espartanos, segundo a história Leónidas terá dito aos seus homens "Almocem comigo aqui, e jantem no inferno". O rei não podia partir, fora criado em Esparta e um espartano nunca foge, segundo a sua filosofia, só existem duas maneiras de um espartano regressar a casa, vitorioso empunhando os seu escudo, ou morto em cima dele. No terceiro dia, completamente cercados, os gregos recebem de Xerxes, segundo Heródoto, as seguintes ordens "Entreguem as vossas armas", ao que Leónidas responde "Venham buscá-las!". São as suas últimas palavras.

Xerxes venceu a batalha de Termópilas, mas a moral do seu exército estava abalada, durante aqueles 3 dias os espartanos e seus aliados mataram mais de 20 mil persas e incutiram o medo nos restantes. Quanto ao traidor grego, o seu nome nunca mais foi esquecido e hoje em dia é a palavra grega para "pesadelo". É difícil de imaginar, nos dias de hoje, este tipo de atitude por parte de um homem, Leónidas sabendo que ia morrer preferiu ficar no campo de batalha do que fugir pela calada da noite. Que teriam vocês feito? Teriam feito o mesmo que ele ou teriam fugido para lutar um outro dia? E quanto ao traidor? O que teria acontecido se os gregos nunca tivessem sido traídos? Teria Xerxes retirado? Seria a derrota grega inevitável? Infelizmente nunca o saberemos, apenas sabemos que num Verão há muito distante, 600 homens morreram por aquilo que acreditavam e isso é de louvar. Em 1955 foi erguida uma estátua no local da batalha com os célebres versos de Simónides de Ceos: «Digam aos espartanos, estranhos que passam, que aqui, obedientes às suas leis, jazemos.»

5 Comments:

At 30 agosto, 2006 22:27, Anonymous Anónimo said...

Excelente ideia ilustrar o texto, que hoje sim, é de leitura mais sugestiva, com o quadro de Jacques-Louis David.
A nossa cultura assenta na cultura grega e os altos valores espartanos de Leónidas deveriam, supostamente, por nós ser seguidos.
Só que, no Tempo, os comportamentos mudaram e hoje, acredito, tudo ou quase é circunstancial. Será por isso, que de um mesmo indivíduo se poderão esperar reacções distintas para o mesmo acontecimento, ocorrido em circunstâncias diferentes.
T.

 
At 04 setembro, 2006 23:37, Blogger Cavaleiro said...

Sim, tens razão, os valores mudam com o tempo e as nossas acções são condicionadas por eles.

Mais uma vez, obrigada por leres o meu blog :)

 
At 06 setembro, 2006 16:29, Blogger Nin said...

Eu sempre pensei que, como Galileo Galilei, é melhor continuar a viver para espalhar o que defendes e não morrer num esforço estéril. Mas para todo há gostos e para cada situação uma saída...
"E pur si muove"...

 
At 06 setembro, 2006 22:10, Blogger Cavaleiro said...

Para os espartanos n havia morte melhor do q morrer em combate. Mas diz-me, cara Nin, será q a morte deles n teve, no final, um propósito? N conseguiram eles desmoralizar o exército persa e entrar para sp nos anais da História?
Galileu viveu num tempo tão diferente, no séc XVI a Igreja era dona e senhora do Mundo, moldando a mentalidade e ditando as regras.
Mas como disse ao/à T., n sei se nos nossos dias faríamos o mm q Leónidas e os seus companheiros, mas uma coisa é certa, lutaram e morreram pelos seus ideais e isso é e sp será de louvar ;)

Bj terno
Cav

 
At 09 março, 2014 22:44, Anonymous alessandra ribeiro de moraes said...

lutar pelos ideais,independente de vencer;Coragem pra lutar ja e uma grande conquista!

 

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