Revisitando a História

"Aqueles que não conseguem lembrar o passado, estão condenados a repeti-lo" George Santayana

segunda-feira, novembro 20, 2006

Joana d'Arc, La Pucelle d'Orléans




A 30 de Maio de 1431, na cidade de Ruão, uma jovem de 19 anos é queimada viva por crimes de heresia. O povo chora o triste destino desta mulher que deu esperança a uma França descrente e abatida pela guerra, mas embora o seu corpo tenha sido consumido nesse dia por labaredas esfomeadas e por invejas e ódios sem limites, o seu nome nunca foi esquecido, Joana d'Arc, la pucelle d'Orléans. Quem foi esta rapariga que num mundo de homens ousou deixar a sua marca na história, o que fez ela para ainda hoje ser venerada e reverenciada como um espírito indomável e um modelo de toda uma nação? Para tentar responder a estas questões teremos que recuar no tempo e conhecer a vida desta jovem tão marcante.

Estamos a 6 de Janeiro de 1412, em plena Guerra dos Cem Anos (1337-1453 d.C.), França é um país sem rei nem roque, os ingleses e os seus aliados controlam quase todo o país, as fomes e as epidemias devastam a população e os nobres franceses que deveriam estar unidos debaixo de uma só bandeira mergulham o que resta da França numa sangrenta guerra cívil. É neste ambiente de terror que, na pequena aldeia de Domrémy, nasce Joana d'Arc, filha de lavradores abastados. A sua mãe, Isabel Romeira - assim chamada por ter feito uma peregrinação a Roma - é uma mulher muito piedosa e ensina à sua filha as principais orações da Igreja, embora Joana se mantenha analfabeta.
Domrémy teve uma influência enorme na infância de Joana, esta pequena aldeia, situada na fronteira fronteira franco-germânica, exprimia um sentimento nacionalista muito forte e implantou muitos desses ideais na mente da jovem.

Aos treze anos, num dia de jejum e oração, Joana ouve pela primeira vez, no jardim do seu pai, as vozes do arcanjo de S. Miguel, de Santa Margarida e de Santa Catarina, estas ordenam-lhe que abandone a sua aldeia para expulsar os ingleses do reino. Segundo a lenda Joana assusta-se e durante três longos anos guarda religiosamente o seu segredo, mas as vozes vão-se tornando cada vez mais insistentes ordenando-lhe que parta para Vaucoulers e trave contacto com o seu capitão, Robert de Baudricourt, segundo as vozes este dar-lhe-ia homens de armas para a conduzirem ao delfim. Ela assim o faz, mas o capitão recusa-se a recebê-la, um ano depois as vozes voltam a atormentá-la e uma Joana decidida consegue finalmente uma audiência e recebe uma escolta.
A 25 de Fevereiro de 1429 encontra-se finalmente com o rei em Chinon, este desesperado por já não ter dinheiro para pagar aos seus soldados e sem saber que decisão tomar, fica feliz por a ver. Segundo a lenda, Joana que nunca vira o delfim dirige-se a ele imediatamente e saúda-o com grande respeito.

Em Maio de 1429, Joana, com um aspecto mais marcial, toma o controlo do exército francês e decide libertar a cidade de Orleães. Usando a astúcia consegue ludibriar os ingleses e penetrar na cidade, a sua entrada reconforta a população desanimada e reacende a chama da coragem no coração dos franceses. Durante oito dias de duras batalhas Orleães é finalmente tomada e o exército inglês é posto em fuga, esta é a primeira viragem da guerra e França parece acordar e sonhar finalmente com a liberdade.
Após esta vitória Joana quer abrir caminho até Reims, a cidade onde segundo a tradição são sagrados os reis. A tarefa parece quase impossível pois toda a região pertence a Borgonha, aliados dos ingleses, e seria preferivel tomar a Normandia, mas Joana recusa-se a dar ouvidos aos seus capitães e marcha para a cidade. Os soldados acorrem em seu auxílio e seguem-na sem contestação, o vale do Loire é então "limpo" em tempo recorde. Mas nem tudo são rosas, pois a cidade de Troyes, aliada dos inimigos, recusa-se a deixá-los passar, Joana irada ordena a preparação de um assalto. A cidade assustada rende-se imediatamente e com ela todas as outras até Reims.
O delfim Carlos é finalmente sagrado rei a 17 de Julho de 1429 e torna-se Carlos VII, a França tem um rei uma vez mais.

O rei tenta imediatamente fazer as pazes com Borgonha enquanto ataca os ingleses no Norte. Joana continua a comandar o exército francês, mas sem sucesso, saboreando várias derrotas entre elas o cerco a Paris onde é ferida na perna. Com o exército desmantelado e vendo-se obrigada a recuar para o sul do Loire, Joana separa-se dos seus amigos, duque de Alençon, Dunois, La Hire e toma o comando de uma pequena companhia.
No final do Inverno, o duque de Borgonha decide acabar com as tréguas que assinou com o rei de França e lança uma ofensiva para retomar as regiões de Champagne e de Brie que se haviam aliado a Carlos VII. O cerco é montado então a Compiègne e Joana, cuja fama e prestígio tinham vindo a aumentar, decide auxiliar os sitiados levando com ela 150 soldados. Não se sabe se obteve autorização real para fazer tal coisa, pois na corte Joana começava a ser temida pela forte influência que tinha sobre o povo. A 23 de Maio de 1430 os soldados burguinhões montam uma emboscada e capturam a donzela de Orleães.
Joana sempre disse, "Prefiro morrer a cair nas mãos dos Ingleses.", mas por ironia do Destino foi o que lhe aconteceu. Assim que foi apanhada os Ingleses tentam resgatá-la oferecendo um resgate enorme pela sua cabeça, Joana é-lhes então entregue e levada para Ruão onde espera julgamento.
Um tribunal da Iquisição é encarregado de a julgar, o rei parece tê-la abandonado e a donzela encontra-se só enfrentando um conjunto de juízes escolhidos a dedo convencidos da sua heresia. A 30 de Maio de 1431, após um longo e penoso julgamento, Joana d'Arc é levada para praça da cidade e queimada viva...

Assim, aos 19 anos, Joana d'Arc, la pucelle d'Orléans, sofre uma morte horrorosa nas mãos dos seus inimigos. A guerra haveria de continuar terminando 22 anos depois com a vitória estrondosa da França. Para mim Joana d'Arc foi uma rapariga marcante que conseguiu deixar o seu nome e a sua lenda num mundo de homens, é incrível como uma rapariga tão nova, guiada por vozes ou não, deu esperança àqueles que já a tinham perdido, sem ela, muito provavelmente a Guerra dos Cem Anos teria tido um desenlace muito diferente. Joana d'Arc é nos dias de hoje um símbolo francês, uma representação do espírito da liberdade e da esperança de toda uma nação e a prova viva que por mais humildes que sejam as nossas origens podemos sempre mudar o Mundo!!!

quinta-feira, outubro 05, 2006

5 de Outubro - Implantação da República


Hoje é feriado no meu país, comemora-se o 5 de Outubro, a implantação da República. Para aqueles que não conhecem a história portuguesa, aqui vai uma breve lição. ;)

Após o regicídio em 1 de Fevereiro de 1908, D. Manuel II, filho mais novo de D. Carlos, subiu ao trono. O seu reinado apenas durou dois anos, sendo marcado por uma enorme instabilidade política na qual foram eleitos sete governos durante esse período de tempo. Por fim, no dia 4 de Outubro de 1910, levanta-se uma revolta com o intuito de derrubar a monarquia liderada por alguns militares da marinha e do exército e com o apoio partido republicano. No dia seguinte, dia 5 de Outubro, é proclamada a implantação da República na varanda da Câmara Municipal de Lisboa. Embora esta revolta tenha sido de facto um golpe de estado centrado em Lisboa e não uma revolução popular, a verdade é que nos dias seguintes o novo regime espalhou-se e foi aceite com júbilo no resto do país.
O rei, esse, foi obrigado a fugir e a exilar-se em Inglaterra onde viveu até ao fim dos seus dias. Pela sua dedicação à literatura portuguesa e a Portugal, recebeu o cognome de O Patriota.

Infelizmente a 1ª República estava condenada ao fracasso, durante 26 anos uma enorme instabilidade política assolou o país, cerca de 50 governos subiram ao poder, e Portugal mergulhou num clima de golpes e contra-golpes de Estado sangrentos que manchavam o seu nome. A 28 de Maio de 1926 tudo termina quando um golpe de Estado dissolve o Parlamento e instala a ditadura. Tem início a Ditadura Salazarista.

segunda-feira, setembro 04, 2006

Cleópatra - O Último Faraó


Estamos a 12 de Agosto de 30 a.C., e na esplendorosa cidade portuária de Alexandria uma mulher desesperada acaba de cometer suicídio. A sua morte foi tão espectacular e fantástica como a sua vida, seus sonhos e desejos nunca foram concretizados, mas o seu nome perdurou até aos nossos dias e a sua vida tornou-se uma lenda. Cleópatra VII do Egipto, a mulher que ousou desafiar a maior potência militar e política da sua época e que tentou a todo o custo preservar a liberdade do seu país e intactos os seus costumes ancestrais.
Mas o que levou esta mulher tão influente a acabar com a sua própria vida? Porque razão se tornou ela numa das mais poderosas e famosas mulheres da História? Para responder a estas e outras questões teremos que recuar no tempo e conhecer melhor a vida desta cativante mulher.

Cleopatra Thea Philopator nasceu em Janeiro de 69 a.C., filha do faraó Ptolomeu XII e descendente da linhagem ptolomaica que governou o Egipto depois da conquista de Alexandre Magno. Desde muito cedo que manifestou uma grande inteligência e uma aptidão natural para a política e para a administração, razão pela qual iria governar como co-regente ao lado do pai até à morte deste. Em 51 a.C. sobe ao trono ao lado do seu irmão mais novo, Ptolomeu XIII (de apenas 10 anos), com o qual viria a casar. Instigado pelas intrigas provocadas pelos seus dois tutores, Potino e Aquilas, que não aprovavam a regência de Cleópatra e que desejavam governar eles mesmos o Egipto, o jovem rei vira-se contra a sua mulher e força-a a exilar-se na Síria em 48 a.C..
Por acaso fortuito, em Setembro desse ano, chega a Alexandria Pompeu o Grande, que tendo perdido a batalha de Farsalo, procura asilo no Egipto. Ptolomeu XIII, influenciado pelos seus dois tutores, ordena a morte deste na esperança de cair nas boas graças do novo senhor de Roma e do Mundo, Júlio César. Este chega ao Egipto no Inverno de 48 a.C. - 47 a.C. perseguindo o seu rival e fica destroçado ao saber o triste destino do seu genro. Talvez por isso tenha decidido intrometer-se na política egípcia e convoca uma reunião com Ptolomeu, mas na noite anterior ao seu encontro dá-se um acontecimento lendário. Segundo Plutarco, Cleópatra envia um presente a César, um belo tapete, que ao ser desenrolado revelou a própria rainha. Segundo a lenda, Cleópatra terá ficado encantada com o charme de César e com as suas fascinantes histórias amorosas. Tomando o seu partido e tornando-se seu amante, o general romano declara guerra a Ptolomeu XIII, que acaba por morrer afogado. César repõe Cleópatra no trono e escolhe para seu marido o seu outro irmão, Ptolomeu XIV. O Egipto mantém-se assim independente mas sob a protecção de Roma.

Durante a estadia de César no Egipto nasce o 1º filho de Cleópatra, Ptolomeu XV Caesar mais conhecido por Caesarion, mas este recusou-se a reconhecê-lo como seu herdeiro, nomeando o seu sobrinho Octávio. Entre 46 a.C. - 44 a.C., Cleópatra muda-se para Roma para estar mais perto do seu amante, o seu caso com César é conhecido por toda a sociedade tornando-a numa mulher de reputação dúbia e vítima de boatos e calúnias. Após a morte do seu amante, a rainha é obrigada a abandonar Roma pela calada da noite, pois teme pela sua segurança, e regressa ao Egipto onde Ptolomeu XIV tinha morrido em circunstâncias misteriosas. Caesarion passa por isso a ser o seu co-regente.

Em 42 a.C. é convocada à presença de Marco António, o novo homem forte de Roma, para prestar contas da sua lealdade. Cleópatra chega a Tarso em grande pompa e circunstância causando um profundo espanto e encanto a este homem de origens humildes. Segundo a lenda, a rainha desfaz a sua melhor pérola num copo de vinho para demonstrar seu o poder e riqueza. Uma vez mais um dos homens mais poderosos do mundo sucumbe aos seus encantos e durante o Inverno de 42 a.C. - 41 a.C. que passaram juntos em Alexandria, engravida pela 2ª vez, desta vez de gémeos, Cleópatra Selene e Alexandre Hélios.
Após 4 anos de ausência, em 37 a.C., António, que se encontrava numa expedição contra os Partos, regressa a Alexandria. Segundo a lenda, casou-se com ela seguindo os antigos rituais egípcios e daqui nasce um outro filho, Ptolomeu Filadelfo. Em 34 a.C., após a conquista da Arménia, António coroou Cleópatra e seus filhos, como reis de grande parte das províncias romanas do Oriente e deu à sua mulher o título de Rainha dos Reis. Estas notícias caíram que nem uma bomba sobre Roma, já não bastava António ter trocado a sua mulher Octávia, irmã de Octávio, por uma mulher de reputação dúbia, mas agora tratava-a como uma grande rainha e quase como uma deusa. O Senado decretou imediatamente, tanto António como Cleópatra como inimigos públicos e declarou-lhes guerra a 31 a.C..
A 2 de Setembro de 31 a.C. dá-se a Batalha Naval de Actium, em que a frota romana comandada por Marcus Vipsanius Agrippa destrói por completo a frota egípcia. A batalha fica marcada pela fuga de Cleópatra, que julgando o seu marido morto decide regressar ao Egipto, António vendo-a partir abandona os seus homens à sua sorte e segue-a.
Um ano depois Octávio invade o Egipto e Cleópatra desesperada decide por termo à sua vida, pois sabe que se não o fizer irá ser arrastada pelas ruas de Roma como um troféu, exibida como um animal e finalmente condenada à morte para gáudio de todos os romanos. Segundo a lenda deixou-se picar no seio por uma víbora.

Com a morte do último faraó, o Egipto perde a sua independência e torna-se finalmente numa província romana. É incrível, esta mulher que segundo todos os dados históricos não era bonita, conseguiu cativar os 2 homens mais poderosos do mundo e governar o seu país com sabedoria e segurança, numa época em que a mulher nada mais era do que uma escrava do seu marido. Mas será que ela os amou de facto? Será que tudo não passou de uma estratégia política para manter a independência do Egipto? Se não se tivesse suicidado, teria conseguido cativar também Octávio?
Nunca o poderemos saber, mas esta mulher que tanto fez pelo bem estar do seu país, merece de facto o seu lugar na História e vem demonstrar que "a beleza está nos olhos de quem a vê".

quarta-feira, agosto 30, 2006

Termophylae


Estamos no Verão de 480 a. C. e o pequeno exército grego de apenas 300 espartanos e 7000 aliados, comandado pelo rei Leónidas I de Esparta, prepara-se para se defender contra a horda persa de 250 mil homens, comandado por Xerxes I rei da Pérsia, no desfiladeiro de Termophylae ("Portas Quentes"). A batalha que aqui se iria travar tornar-se-ia uma das batalhas mais famosas da Antiguidade em que a ambição desmedida de um homem seria confrontada pela inigualável coragem de um outro.

Seguindo os passos do seu pai, Dário I, Xerxes resolve dar continuação à guerra contra os gregos, guerra essa conhecida como Guerras Médicas. Sedento de vingança pela derrota de seu pai na Batalha de Maratona, Xerxes reúne o seu gigantesco exército de 250 mil homens (segundo Heródoto de Halicarnasso, seriam milhões) e decide invadir a Grécia e torná-la parte do seu império.
Tendo conhecimento deste plano e em especial do gigantesco número do exército persa, as cidades estado gregas reúnem-se para discutir uma aliança, assim, Atenas e Esparta, cidades rivais que lutam pelo controlo da Grécia, tomam a decisão de unir forças e enfrentar juntas a temível força invasora.
Coube a Leónidas I, rei de Esparta, a missão de liderar um pequeno contingente de homens (300 espartanos e 7000 aliados) e tentar deter por tempo suficiente o exército inimigo enquanto as restantes cidades estado reuniam um exército suficientemente grande para defrontar os persas.
O melhor local para esta missão seria o estreito de Termópilas, um local encravado entre as cadeias montanhosas do Eta e do Calídromo e um braço de mar (o golfo de Mália). O seu nome deve-se às duas fontes sulfurosas que aí existiam e, segundo Heródoto, os seus troços eram tão estreitos que só um carro podia passar de cada vez. Este seria o campo de batalha perfeito, pois a enorme vantagem numérica persa ficaria sem efeito e apenas um número reduzido dos seus homens poderia avançar de cada vez para enfrentar os gregos.

Foi aqui que Leónidas montou o seu acampamento e foi aqui que durante 4 dias esperou pacientemente pelos persas que tinham acampado na planície em frente. Xerxes ficou deveras admirado quando os seus batedores lhe informaram que um pequeno contingente de gregos estava acampado nas montanhas e se mostravam descontraídos e relaxados. Finalmente no quinto dia, o rei persa farto de esperar por um confronto decidiu avançar e atacar a pequena força grega. Ordenou aos seus homens, soldados de infantaria ligeira, que investissem contra a posição inimiga, eles assim o fizeram, mas sem a capacidade de flanquear ou cercar o inimigo rapidamente se viram a braços com uma resistência encarniçada composta por soldados de infantaria pesada e altamente especializados na arte da guerra. O resultado foi uma derrota humilhante para os persas naquele primeiro dia. De acordo com Heródoto, Xerxes furioso terá dito "Minhas flechas serão tão numerosas que obscurecerão a luz do Sol", ao que um grego lhe terá respondido "Tanto melhor, combateremos à sombra!".
No segundo dia, Xerxes voltou a ordenar aos seus homens que atacassem a barreira grega, mas uma vez mais voltaram a sofrer pesadas baixas, o rei desapontado mandou avançar a sua guarda de elite, os Immortais, mas nem estes conseguiram fazer frente à táctica grega da Falange e acabaram por ser igualmente derrotados. Porém, um acontecimento que viria a mudar o destino destes corajosos resistentes estava prestes a acontecer, pela calada da noite um grego chamado Ephialtes desertou para o lado persa e em troca de uma boa maquia de dinheiro revelou uma passagem secreta através das montanhas que permitiria cercar os resistentes.
Tendo conhecimento da traição, Leónidas ordenou aos seus aliados que se retirassem, pois no dia seguinte seriam mortos. Dos 7300 apenas 600 ficaram, 300 dos quais eram espartanos, segundo a história Leónidas terá dito aos seus homens "Almocem comigo aqui, e jantem no inferno". O rei não podia partir, fora criado em Esparta e um espartano nunca foge, segundo a sua filosofia, só existem duas maneiras de um espartano regressar a casa, vitorioso empunhando os seu escudo, ou morto em cima dele. No terceiro dia, completamente cercados, os gregos recebem de Xerxes, segundo Heródoto, as seguintes ordens "Entreguem as vossas armas", ao que Leónidas responde "Venham buscá-las!". São as suas últimas palavras.

Xerxes venceu a batalha de Termópilas, mas a moral do seu exército estava abalada, durante aqueles 3 dias os espartanos e seus aliados mataram mais de 20 mil persas e incutiram o medo nos restantes. Quanto ao traidor grego, o seu nome nunca mais foi esquecido e hoje em dia é a palavra grega para "pesadelo". É difícil de imaginar, nos dias de hoje, este tipo de atitude por parte de um homem, Leónidas sabendo que ia morrer preferiu ficar no campo de batalha do que fugir pela calada da noite. Que teriam vocês feito? Teriam feito o mesmo que ele ou teriam fugido para lutar um outro dia? E quanto ao traidor? O que teria acontecido se os gregos nunca tivessem sido traídos? Teria Xerxes retirado? Seria a derrota grega inevitável? Infelizmente nunca o saberemos, apenas sabemos que num Verão há muito distante, 600 homens morreram por aquilo que acreditavam e isso é de louvar. Em 1955 foi erguida uma estátua no local da batalha com os célebres versos de Simónides de Ceos: «Digam aos espartanos, estranhos que passam, que aqui, obedientes às suas leis, jazemos.»

domingo, agosto 20, 2006

César e o Rubicão

A 10 de Janeiro de 49 a.C. Gaius Iulius Caesar atravessa o pequeno rio Rubicão proferindo, segundo a lenda, alea iacta est (os dados estão lançados). As consequências deste acto mergulhariam Roma numa longa e violenta guerra cívil que mudaria para sempre o destino da República e do Mundo. Mas o que levou este homem, um aristocrata romano e um republicano convicto, a iniciar uma guerra cívil contra o Senado de Roma (S.P.Q.R.)? Para responder a esta pergunta teremos que recuar um pouco no tempo.
Corria o ano de 59 a.C. e César acabara de ser eleito Cônsul Sénior da República de Roma pela Assembleia das Centúrias, infelizmente para ele, Marcus Calpurnius Bibulus, seu inimigo político e membro da facção conservadora (Optimates) foi eleito para ser seu colega como Cônsul Junior e aproveitou a oportunidade para complicar a vida política do seu rival. Felizmente para César a Fortuna sorriu-lhe e depressa encontrou dois grandes aliados que o iriam ajudar no futuro, Gnaeus Pompeius Magnus (Pompeu o Grande) e Marcus Licinius Crassus. O primeiro estava em guerra aberta com o Senado pois exigia terras de cultivo para os seus veteranos, o segundo, o homem mais rico de Roma, encontrava-se em dificuldades para obter um comando militar contra os Partos. César não perdeu a oportunidade e, uma vez que precisava de dinheiro e de influência, formou com eles uma aliança que viria a ser conhecida como o primeiro triunvirato. Para cimentar a sua união com Pompeu, César oferece-lhe a sua única filha, Júlia.
Findado o seu ano como Cônsul, César iniciou um plano audaz, recebeu poderes proconsulares para governar as províncias da Gália Transalpina e Illyricum, mas o seu plano não seria governar pacificamente estas províncias, ao invés seria lançar Roma na sua primeira guerra ofensiva, a conquista de toda a Gália. Durante aproximadamente 10 anos, de 58 a.C. - 49 a.C., César dirige brilhantemente as suas legiões na campanha que seria conhecida como as Guerras Gálicas, campanha essa que seria inteiramente publicada nas suas crónicas intituladas de Comentários (De Bello Gallico). Em 58 a.C. derrota os helvéticos, em 57 a.C. é a vez da confederação belga e dos nérvios, os venécios em 56 a.C. e, finalmente, em 52 a.C. vence a confederação gálica liderada por Vercingétorix na batalha de Alésia. Segundo Plutarco, a campanha resultou em 800 cidades capituladas, 300 tribos submetidas, um milhão de gauleses reduzidos à escravatura e outros 3 milhões mortos no campo de batalha.
Apesar dos sucessos e benefícios que a conquista da Gália trouxe a Roma, César continuava impopular entre os seus pares, especialmente junto da ala conservadora. Em 54 a.C. Júlia morre em trabalho de parto, deixando um pai e um marido desgostosos. Em 53 a.C. Crassus é morto na campanha contra os Partos. César tenta em vão manter uma aliança com Pompeu propondo um casamento com uma das suas sobrinhas, mas este prefere casar-se com a filha de Metellus Scipio, inimigo mortal de César, Cornélia Metella e junta-se à ala conservadora.
Em 50 a.C. o Senado liderado por Pompeu, ordena o regresso de César e a desmobilização das suas legiões, proibindo-o ao mesmo tempo de se candidatar pela segunda vez ao cargo de Cônsul in absentia. César sabia que sem a imunidade do seu imperium de procônsul e sem as suas legiões seria sem sombra de dúvida julgado e condenado pelos seus inimigos. Assim, entre a espada e a parede, tomou uma decisão que iria mudar o curso da história, a 10 de Janeiro de 49 a.C. atravessa o Rubicão levando consigo apenas uma legião, a X, e lança Roma numa guerra cívil.

Como podem ver, César foi obrigado a tomar uma decisão difícil, uma decisão que iria acabar com a República. O que teriam vocês feito no seu lugar? Teriam feito o que ele fez, sabendo que poderiam perder a guerra e lançar a vossa família na desgraça, ou render-se e deixar que os tribunais vos julgassem? O que teria acontecido a Roma se César não tivesse atravessado o Rubicão? Infelizmente esta ~e muitas outras perguntas ficarão para sempre sem resposta, mas podemos sempre imaginar ;)

quinta-feira, agosto 17, 2006

Introdução

Ora bem, cá estou eu a abrir um novo blog, desta vez não é nenhuma história imaginária criada pela minha mente fértil, mas sim um projecto há muito ansiado. Sou um apaixonado por História e como tal decidi abrir uma página inteiramente dedicada a ela. Existe muita gente que não se interessa por esta matéria, não a considera fascinante ou até mesmo interessante, o que é uma pena, pois o que somos hoje devemo-lo aos que nos antecederam, devemo-lo àqueles que tomaram decisões difíceis, atitudes questionáveis e enveredaram por sonhos por vezes inalcansáveis. Às vezes ao ler um bom livro de História me pergunto, o que teria acontecido se Napoleão tivesse ganho a batalha de Waterloo, se o grande khan Ogedei não tivesse morrido, se os ingleses tivessem ganho a guerra da independência americana, se César não tivesse atravessado o Rubicão e se a Restauração da Independência de 1640 nunca tivesse acontecido?
A História é muito mais que factos, muito mais que livros enfadonhos, é psicologia pura em que homens ou mulheres normais, como nós, são obrigados a tomar decisões que irão influenciar irremediavelmente as gerações futuras.Espero que gostem, comentem, aprendam e debatam comigo ideias e opiniões :)
O próximo post será: César e o Rubicão